VII Domingo do Tempo Comum

 

Evangelho:  Lc 6, 27-38

Homilia: Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Tract. 17, 1-4: CCL 138, 68-71)

          Para viver conforme o Evangelho, amados filhos, é de grande utilidade conhecer a doutrina da Lei, porque algumas daquelas antigas normas passaram para a nova observância. Também a própria prática religiosa da Igreja demonstra que o Senhor Jesus não veio para abolir a Lei, mas para cumpri-la. De fato, tendo desaparecido os sinais com os quais anunciava o advento de nosso Salvador, e realizadas as figuras pela presença da Verdade, todas as prescrições sugeridas pela piedade – como normas de conduta ou para assegurar a pureza do culto divino – permanecem da mesma forma em vigor para nós; e tudo quanto era conveniente a um e outro Testamento não sofreu mudança alguma.

          Na verdade, é sempre muito eficaz diante de Deus a oração acompanhada de obras de misericórdia, porque quem não afasta do pobre a sua atenção, logo atrai sobre si a atenção de Deus, conforme diz o Senhor: Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso; perdoai e sereis perdoados (Lc 6,36.37). Que há de mais favorável que essa justiça? Que há de mais premente que essa retribuição, em que a sentença do juiz está a cargo de quem deve ser julgado? Dai e vos será dado (L 6,38), disse ele. Como acabam depressa a preocupação da desconfiança e a hesitação da avareza, quando os homens podem dar com tranquilidade o que a Verdade promete restituir.

          Sê perseverante, ó cristão generoso, dá o que hás de receber, semeia o que hás de colher, espalha o que hás de recolher. Não tenhas medo de gastar nem te angustie a incerteza dos frutos. Quando bem distribuídos, teus aumentarão. Ambiciona o merecido fruto da misericórdia, e vai ao encalço do lucro eterno. O teu benfeitor quer que sejas generoso, e aquele que te dá ocasião de possuir, manda-te distribuir, quando diz: Dai e vos será dado. Abraça e agradece a condição imposta por esta promessa.

          Ainda que nada possuas que não tenha recebido (ICor 4,7), não podes, contudo, não possuir o que tiveres dado. Aquele que ama o dinheiro e deseja multiplicar sem medida as suas riquezas, exercite antes essa santa usura e se enriqueça com a vantagem desse rendimento; e não se aproveite, por meio de falsos benefícios, da necessidade dos que estão oprimidos, a fim de não cair nos laços dos devedores insolventes; mas antes, faça-se credor e beneficiário daquele que disse: Dai e vos será dado; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos (Lc 66,38).

          Por conseguinte, amados filhos, vós que crestes de todo o coração nas promessas do Senhor, fugi da lepra imunda da avareza e fazei uso dos dons de Deus com amor e sabedoria. E, já que gozais da sua liberalidade, trabalhai para que outros possam participar da vossa alegria.