Irmã Maria de Guadalupe, noviça

Iniciou seu noviciado em 19/03/2018

 

A vocação é um chamado divino e não meramente humano. Deus chama e a nós cabe dar uma resposta. Portanto, não escolhemos, mas Deus nos escolhe por primeiro.

A cada pessoa a vocação se desperta de um modo diferente. Vou falar da minha, esperando que possa ser de auxílio para alguém que se sinta como eu me senti diante desse empasse: “O que ser? O que vou fazer da vida?... São muitas as questões que frequentemente aparecem aos jovens.

Deus chama, mas como? A mim me inquietava muito ver amigos tão despreocupados com o futuro, enquanto dentro de mim eu tinha um turbilhão de perguntas sem respostas, de anseios inquietantes. Por isso digo que a vocação não vem na calmaria, ela vem te desestabilizar, tirar toda e qualquer certeza que você presuma ter. Eu me via angustiada por me sentir fora de tudo o quanto me era oferecido. Eu almejava algo maior para mim, sem sequer saber o que seria esse “algo maior”.

Eu participei de inúmeros encontros vocacionais com casais, leigos, religiosas e religiosos. Todas as vocações são belíssimas e muito importantes; em todas podemos buscar nossa santidade. Mas eu ainda me perguntava: “Senhor, o que desejas? ”Procurava sempre estar atenta aos seus sinais, mas nada extraordinário acontecia. Em meu coração ardia um fogo que me consumia.

Quando em foi apresentada a vida religiosa, eu me senti encantada, fiquei enamorada e, mesmo sabendo de minhas condições humanas tão frágeis, sentia que essa era a vida para mim. Aí me perguntava: “Por que eu, Senhor? Serei capaz de tão grande feito? ” Sentia que Deus me respondia em minhas orações: “Eu sustento aqueles que chamo. Não temas! Eu capacito aqueles que se entregam à minha Graça! ”

Depois de muita luta, comecei a fazer progressos, comecei a minha busca. Em primeiro lugar, é preciso fazer alguns descartes, e assim eu fiz. Para mim o matrimônio era uma bela expressão do Amor de Deus, e do qual eu tenho muitos exemplos: o primeiro de meus pais, depois todas as minhas irmãs constituíram família. Mas eu queria mais..., pelo menos o matrimônio não era meu objetivo de vida. Eu queria algo de suma importância para a humanidade, e na vida religiosa eu encontrei esse “mais” que nas outras formas de vida eu não tinha encontrado. Na vida religiosa meu coração se aquietou. Aqui muitos de meus anseios e temores acharam respostas. Meu coração tão inquieto que era, se pacificou.

Vou contar qual foi minha primeira impressão ao visitar as irmãs no mosteiro. A primeira vez que participei do Ofício Divino, eu fiquei tão extasiada com tanta grandeza. Eu me vi diante de algo tão sacro, tão divino; foi de uma emoção tão profunda, que eu não conseguia acreditar que o Céu pudesse descer à Terra... era tudo tão lindo, tudo falava “Deus”. Eu, dentro da minha natureza humana pecadora, não era digna de estar ali. Eu me via extasiada, com o coração batendo forte e as mãos geladas, assim como descrevem os apaixonados diante da pessoa amada. Tudo naquele dia foi graça! Pude contemplar aquele coro seráfico em plena Terra... receava que era muito para mim.

Foi aí que Deus me respondeu: “Desejas algo grandioso? Te entrego toda a humanidade, toma conta dela”. Entendi que minha vocação era orar por toda a humanidade, me consumir em amor, em zelo, por todos os filhos de Deus. Percebi que aquilo que eu sempre almejei – poder cuidar de minha família e de todos com igual carinho – somente na vida religiosa, e em especial na vida monástica, eu poderia encontrar. Hoje vivo na graça de Deus, e, após tanta procura, tantos desencontros, encontrei o Senhor que se escondia atrás dos muros do claustro.

Aqui sinto que levo todos comigo, pois os tenho em minhas orações. Sinto poder realizar um trabalho árduo em busca de minha salvação, mas também de toda a humanidade. Quando entro em minha cela e fecho as portas, me vejo entrando nas núpcias do Cordeiro. Aqui não há mais solidão, inquietação. Meu coração vive sereno, pois o Amado está comigo! E se o tenho ao meu lado... nada me falta!