XII Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Lc 9, 18-24

Homilia: Do Comentário sobre o Evangelho de São Lucas, de Santo Ambró-sio, bispo

(Lib. 6, 95.97-100.107: SCh 45, 264-266.269)


 

          Aquele que venceu a carne é um fundamento da Igreja. E, se não pode equiparar-se a Pedro, pode imitá-lo. Pois os dons de Deus são grandes: não só restaurou o que era nosso, mas ainda nos deu o que era dele.

Sim, a bondade de Cristo é grande: quase todos os seus no-mes, ele os deu aos seus discípulos. Eu sou – disse ele – a luz do mundo (Jo 8,12); e, no entanto, este nome do qual ele se glorifica, concedeu-o a seus discípulos, dizendo: Vós sois a luz do mundo (Mt 5,14). Eu sou o pão vivo (Jo 6,51), e nós somos todos um só pão (1Cor 10,17). Eu sou a videira verdadeira (Jo 15,1), e te diz: Eu vos plantei como uma vinha cheia de frutos, verdadeira (Jr 2,21).

          Cristo é a pedra – eles bebiam da pedra espiritual que os acompanhava, e a pedra era Cristo (1Cor 10,4). Não recusou tam-bém a graça deste nome ao seu discípulo, de modo que ele é Pedro igualmente, porque terá a firmeza e a constância da pedra, a solidez na fé. Esforça-te, tu também, por seres pedra; mas não procures esta pedra fora de ti. Tua pedra é a tua ação; tua pedra é o teu pensamento. É sobre esta pedra que se constrói a tua casa, para que nenhum vento mau, nenhuma tempestade do espírito a possa derrubar. Tua pedra é a fé: a fé é o alicerce da Igreja.

          Então, se tu és pedra, tu estarás na Igreja, porque a Igreja está sobre a pedra. Se estás na Igreja, as portas do inferno não triunfarão sobre ti: as portas do inferno são as portas da morte, e as portas da morte não podem ser as da Igreja. E quais são essas portas da morte, senão as diversas espécies de pecados? Mas Deus tem o poder de te arrebatar das portas da morte, para que proclames todos os seus lou¬vores às portas da filha de Sião. As portas da Igreja são as portas da castidade, as portas da justiça pelas quais o justo está acostumado a passar.

          É necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar (Lc 9,22). Talvez o Senhor tenha acrescentado isto porque sabia a dificuldade que teriam os discípulos em acreditar na paixão e na ressurreição. Assim, Cristo não quis glorificar-se, mas preferiu manifestar-se sem glória, para padecer o sofrimento. E tu, que nasceste sem glória, irás acaso glorificar-te? Deves caminhar pelo mesmo caminho trilhado por Cristo. E reconhecê-lo e imitá-lo, na ignomínia como na boa fama, é te gloriares da cruz, como ele próprio se gloriou. É este o esplendor da fé: compreender verdadei-ramente a cruz de Cristo.