VI Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Lc 6, 17.20-26

Homilia: Dos Sermões de São Cromácio de Aquileia, bispo

(Sermo 39: SCh 164, 216-221)

          Quando nosso Senhor e Salvador percorria muitas cidades e regiões pregando e curando toda doença e enfermidade do povo, conforme a presente narração, vendo as multidões junto dele, Jesus subiu à montanha (Mt 5,1). Convém que o Deus altíssimo suba a um lugar mais alto, para dirigir palavras mais elevadas aos homens desejosos de atingir virtudes mais altas. E é bom que a Lei nova seja proclamada sobre a montanha, pois a Lei fora também dada a Moisés sobre uma montanha. A antiga contém dez mandamentos que ensinam a conduta na vida presente; a outra, oito Bem-aventuranças, que conduzem seus seguidores à vida eterna e à pátria celeste.

Bem-aventurados os mansos, porque receberão a terra em herança (Mt 5,5). Os mansos devem, pois, ter um caráter cordato e um coração sincero; e o Senhor mostra, de modo evidente, que seu mérito não é pequeno, ao dizer: Porque receberão a terra em herança, esta terra acerca da qual está escrito: Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes (Sl 26[27], 13). A herança daquela terra é a imortalidade do corpo e a glória da ressurreição. Pois a mansidão ignora o orgulho, ignora a soberba, ignora a ambição. Não é sem motivo que o Senhor, em outro lugar, exorta seus discípulos nestes termos: Sede meus discípulos, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós (Mt 11, 29).

          Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados (Mt 5,4). Não os que choram a perda de seus entes queridos, mas os que deploram seus próprios pecados, que lavam com lágrimas suas faltas; ou ainda, os que lastimam as injustiças deste mundo, ou lamentam os pecados alheios.

         Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). Vê quão grande é o mérito dos promotores da paz: de agora em diante não são mais chamados servos, mas filhos de Deus. E é justo que assim seja, pois quem ama a paz, ama Cristo, autor da paz, a quem o Apóstolo Paulo chama de paz, dizendo: Ele é a nossa paz (Ef 2,14). Ao contrário, quem não ama a paz segue a discórdia, porque ama o demônio, autor da discórdia. Foi ele que, desde o começo, instaurou a discórdia entre Deus e o homem, tornando o homem um transgressor dos mandamentos de Deus. Mas o Filho de Deus desceu do céu precisamente para condenar o demônio, autor da discórdia, e promover a paz entre Deus e o homem, reconciliando o homem com Deus e levando a devolver ao homem a sua graça.

          Eis porque devemos ser promotores da paz: para merecermos também ser chamados filhos de Deus. Porque sem a paz, não só perdemos nosso nome de filhos, mas até o de servos, no dizer do Apóstolo: Amai a paz, sem a qual nenhum de nós pode agradar a Deus (cf. Hb 12,14).