IX Domingo do Tempo Comum

Evangelho: Lc 7, 1-10

Homilia: Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 62, 1.3-4: PL 38, 414-416)

          No Evangelho que acabamos de ouvir é louvada a fé humilde. Quando o Senhor prometeu ir à casa do centurião para curar-lhe o servo, ele respondeu: Não sou digno de que entres   em minha casa (Lc 7,6). Proclamando-se indigno, tornou-se digno de que Cristo entrasse não só em sua casa, mas, sobretudo, em seu coração. Ele não teria pronunciado tais palavras   com  tanta fé e humildade, se já não tivesse dentro de si aquele que não ousava acolher em casa. Não seria grande felicidade ter Jesus em casa, se não o tivesse no coração. Jesus,   mestre da humildade pelo exemplo e pela palavra, sentou-se também à mesa de um fariseu orgulhoso chamado Simão.        Embora repousando naquela casa, o Filho não encontrava no   coração de seu hospedeiro um lugar onde reclinar a cabeça.

          Portanto, enquanto o Senhor se sentava à mesa do soberbo fariseu, estava em sua casa, mas não em seu coração. Ao contrário, embora não entrando na casa do centurião, já   possuía o seu coração. Por isso é louvada a sua fé cheia de humildade. Não sou digno de que entres em minha casa. E o Senhor: Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei uma fé   tão grande (Lc 7,9); isto é, no Israel segundo a carne.

          Este centurião já era um israelita segundo o espírito. O Senhor viera a Israel segundo a carne, isto é, aos judeus, para buscar, antes das outras, as ovelhas perdidas daquele povo no qual e do qual recebera o seu corpo. E ele mesmo diz: Nem mesmo em Israel encontrei uma fé tão grande. Nós podemos avaliar a fé dos homens, mas como homens; aquele, porém, que perscrutava o íntimo, aquele que ninguém podia enganar, dá testemunho do coração deste homem, ouvindo a sua humilde palavra e pronunciando a sentença da salvação.

          O que foi que a motivou? O centurião dissera: Mesmo na posição de subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens, e se ordeno a um: “Vai! ”, ele vai; e a outro: “Vem! ”, ele vem; e se digo a meu escravo: “Faze isto! ”, ele faz (Lc 7,8). Sou uma autoridade para meus súditos, mas eu mesmo estou sob a autoridade de outro acima de mim. Se eu, diz ele, homem sujeito a outro, tenho o poder de mandar, o que não poderás fazer, tu de quem depende toda a autoridade? E era um pagão, e ainda mais, um centurião. Comportava-se como soldado, como podia fazer um centurião, sujeito à autoridade e constituído em autoridade, obedecendo enquanto súdito, comandando aos subalternos. Mas o Senhor, se bem que pertencente ao povo judeu, já anuncia a futura difusão da Igreja em todo o mundo, ao qual enviaria os apóstolos. Os pagãos acreditaram nele sem mesmo tê-lo visto; os judeus viram-no e o mataram.

          Embora não tenha entrado naquela casa, ausente de corpo, mas presente pelo seu poder, o Senhor premiou-lhe a fé, curando toda a família. Do mesmo modo, o Senhor não apareceu visivelmente a não ser entre o povo judaico; pois não nasceu da Virgem, não sofreu, não caminhou, não se sujeitou à condição humana, nem realizou as maravilhas divinas em nenhuma outra nação. Nada disto entre os outros povos. Todavia cumpriu-se o que fora dito a respeito dele: Serviu-me um povo para mim desconhecido. Como, se não me conhecia? Mal ouviu a minha voz, obedeceu (Sl 17 [18], 45). O mundo inteiro ouviu e acreditou.