Homilia nos 70 Anos de Fundação do Mosteiro de N. Sra. da Glória

Jubileu de Fundação do Mosteiro de N. Sra. Da Glória

70 anos de serviço à Igreja.

Festa da Natividade de Nossa Senhora

08 de setembro de 2018.

 

Caríssima Abadessa Madre Escolástica e Irmãs deste Mosteiro,

Queridos irmãos em Cristo:

É com grande alegria que presido a Festa da Natividade da Santa Mãe de Deus, em cuja data este Mosteiro cumpre seus setenta anos de fundação, ou, como utilizamos em nosso linguajar monástico, setenta anos de Louvor Divino.

Acabamos de escutar na proclamação do Evangelho a genealogia de Jesus segundo o evangelista Mateus. A partir do texto, concluímos, e esta foi a intenção do apóstolo, que Jesus era da descendência de Davi, tanto pelo pai adotivo José quanto por sua Santa Mãe. Era Jesus o Messias esperado; Aquele que viria restaurar o Reino Messiânico.

Se atentos ao texto evangélico, constatamos inúmeras personagens bíblicas tais como santos, pecadores, reis e mulheres estrangeiras, bem como Bersabéia, aquela que fora esposa de Urias e mãe de Salomão. Para se chegar à plenitude dos tempos e o Verbo tomar a nossa carne no seio da Virgem, inúmeras gerações em sua humanidade frágil, santa e pecadora, se sucederam.

Paralelamente a essa realidade da genealogia do Cristo, podemos afirmar que o Mosteiro de Nossa Senhora da Glória em seus setenta anos também se compõe por gerações de monjas que foram se sucedendo até chegar ao dia de hoje. Cada uma delas teve sua contribuição em sua fraqueza, pecados e virtudes. Assim como Deus utilizou de seus eleitos em natureza frágil e pecadora para dar-nos o Salvador, assim também utilizou e utiliza cada mulher que aqui esteve e está para dar continuidade à obra de São Bento instituída a milênios: “Nada preferir ao amor de Cristo”.

Exatamente esse ideal de “Nada preferir ao amor de Cristo” é que dá sentido à permanência de tantas mulheres em nossos claustros.

Quando uma comunidade de monjas leva a sério esse projeto de vida “Nada preferir ao amor de Cristo”, então como uma célula da Igreja e pela sua peculiar forma de vida, professa a fé de que Jesus Cristo é o Novo Davi, o Filho de Deus e, portanto, pela sua coversatio monástica proclama que o Reino de Deus chegou, que está entre nós pelo seu Opus Dei que prolonga no tempo o louvor que o Cristo iniciou ao Pai, pelo acolhimento nos parlatórios e hospedaria quando abraça aqueles que são sacramento do Cristo em suas investidas a partilhar as alegrias e sofrimentos e, por fim, ao anunciar o retorno glorioso do Senhor no fim dos tempos.

E mais, se nossas monjas são dóceis à ação da Graça ao viver o Nada preferir ao amor de Cristo”, tornam-se mestras e educadoras para inúmeras pessoas que, já insatisfeitas, põem à frente do amor de Cristo seus interesses, suas ilusões, seus pedaços de amor ao próximo, a si mesmas e a Deus, que O forjas a partir de seus mais perturbadores anseios. Eis o grande apostolado da monja de São Bento que vive monasticamente em seu mosteiro: fazer o homem e a mulher de nosso tempo descobrir essa verdade libertadora: “Nada preferir ao amor de Cristo”.

Hoje, esta comunidade de monjas, fruto de gerações que sustentaram o projeto evangélico de São Bento, são chamadas, por vocação, a apresentar Jesus Cristo, único caminho, verdade e vida. Apresentando-O professam a fé na Igreja, sacramento do Cristo e instrumento de Salvação.

Bem sabemos, o mundo hodierno propõe o assim chamado cristianismo alternativo; solução para exercer uma pretensa fé ancorada na subjetividade do indivíduo sem o compromisso objetivo com a instituição que o Cristo outorgou a seus Apóstolos. Entretanto, há uma só fé, um só batismo e uma só Igreja, aquela instituída na noite santa, antes do Senhor subir ao trono da cruz. Na Igreja e a partir dela, nós e nossas monjas somos – sem constrangimento, medo e com muita criatividade – chamados a proclamar com palavras e vida: “Nada preferir ao amor de Cristo” equivalendo a dizer “Nada preferir ao amor da Igreja”, que, sob a ação do Espírito Santo, gera novos filhos de Deus e os sustenta com o alimento que é penhor da vida eterna, ou seja, com o Corpo e o Sangue, que, logo mais, o teremos sob o altar.

Deus nos abençoe a todos!

Dom André Martins, OSB.