Homilia da Dedicação da Igreja Abacial de Nossa Senhora da Glória

Homilia de Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Uberaba, por ocasião da Dedicação da Igreja Abacial de Nossa Senhora da Glória

7 de setembro de 2018

Nos primeiros séculos do Cristianismo não havia igrejas para as celebrações. Os cristãos se reuniam pelas casas chamadas domus ecclesiæ, isto é, casas da comunidade. Papa, bispos, sacerdotes e celebrações eram simples e diferentes. No ano 313, o imperador Constantino permitiu a religião cristã no Império Romano. Então se construíram as basílicas para as reuniões do povo e as celebrações.

A primeira basílica foi a de São João de Latrão. O nome Latrão vem de Laterani, nome da família que tinha casa naquele local. Sua casa foi destruída por Nero no ano 60. Ali foi construído um palácio em 161. Constantino o deu ao Papa Melquíades. A dedicação da Basílica foi presidida pelo Papa Silvestre I no ano 324, dedicada ao Divino Salvador e mais tarde à São João Batista.

Celebrar a dedicação – consagração de uma igreja, mais que celebrar a lembrança da data de um prédio, é celebrar o nascimento de uma comunidade. Esta basílica é chamada de mãe de todas as igrejas da terra. É a primeira igreja a ser construída. Entramos numa fase nova do cristianismo que passa a ter templos.

Modifica-se muito o estilo de Igreja e perde-se bastante do ensinamento: “adorar a Deus em Espírito e Verdade”. Mas, mesmo com os belos templos de tijolo ou os pobrezinhos de adobe e capim, o fundamental não pode ser perdido: adorar em espírito e verdade (Jo 3, 24).

A cena de Jesus purificando o templo é assustadora. Até os humildes foram tocados, mas com menos força. Ele amava o templo, coração da fé do povo. Tinha zelo pela casa do Pai, como diz a Escritura: “O zelo por tua casa me consumirá” (Sl 69, 10). O povo era explorado no templo que se transformou em uma casa de comércio onde se vendiam os animais para os sacrifícios e trocavam as moedas pela moeda do templo. Esta era pura para ser usada, mas também explorada. Jesus faz uma profecia sobre o templo que vai ser destruído e Ele, Messias de Deus, será o novo templo. Nele encontramos Deus. Na Ressurreição, Jesus toma o lugar deixando fora todas as outras mediações para o encontro com Deus. As comunidades, simbolizadas pelas igrejas, tem que ser sempre purificadas de todos os males que prejudicam o povo e o relacionamento com Deus. O culto deve ser de doação, de disponibilidade e de serviço humilde, como é o Corpo de Cristo Ressuscitado.

O profeta Ezequiel fala da água que nasce do templo dando fertilidade e vida. Representa a presença do Senhor no meio do povo. Jesus é a água viva. De seu peito aberto pela lança sai a água e o sangue. Mata nossa sede de Deus e nos alimenta com seu sangue que é vida.

A celebração da bênção e dedicação dessa igreja leva-nos a fazer memória de nossas comunidades e das pessoas que foram nossos pais na fé. Anima-nos a purificar nossas comunidades e celebrações de tudo o que é impuro, como a falta de amor, a ganância de dinheiro e poder e a exploração do povo. Elas devem ser sinal da Ressurreição. É tempo de purificação.

Jesus purifica o templo que se transformara em casa de comércio. Jesus profetiza que o templo será construído e Ele será o novo templo, lugar do encontro com Deus; sem outras mediações.

Hoje celebramos a reinauguração desta Igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Glória, fruto de um trabalho que contou com a participação de toda a comunidade de Uberaba. É um local de celebrar ação de graças, lugar do sacrifício (livro dos Números) eucarístico e para onde todos nós somos convocados para a prática da fé.

Diz São Paulo que todos nós participamos da construção do templo de Deus, mas tendo como fundamento Jesus Cristo. Mas cada cristão é o templo de Deus onde habita o Espírito de Deus, que não pode ser destruído.

Quem valoriza o templo de Deus é capaz de valorizar as pessoas. Jesus acolheu Zaqueu, publicano e rico. Jesus foi à sua casa, ao seu templo, e foi recebido com alegria por Zaqueu. O templo é o lugar do encontro com as pessoas e com Deus. Lugar de mudança de vida, de superação dos deuses que massacram a vida das pessoas.

Queremos parabenizar o trabalho das irmãs beneditinas. Foi um empreendimento de peso, de sacrifício, tendo que improvisar uma capela durante a reforma, e de muita expectativa. Temos agora esse belo templo, ambiente de espiritualidade e de um clima que favorece a oração. Espaço mais amplo e em condição de favorecer o encontro das pessoas com Jesus Cristo.

Parabenizamos Walmir, responsável pela obra e toda a sua equipe de trabalho, porque conseguiram entregar tudo em tempo. Que Deus os abençoe e os conduza nos seus trabalhos.

Dom Paulo Mendes Peixoto.